domingo, 23 de janeiro de 2011

Nostalgia.



Todos os dias quando acordo demoro para abrir os olhos, fico longos segundos pensando no que estará por vir, a rotina que já esta pré estabelecida, e só então abro os olhos, vasculho todo o quarto, para ter certeza de que esta tudo no lugar, que nada foi mexido, vasculho pensamentos procurando algo que realmente me motive a sair da cama, quente e macia. E somente após levantar e olhar para cama com saudade é que percebo que já estou atrasada e que o café esta frio.


Sigo então, concretizando a minha repetida rotina. Ando ate o banheiro, me arrastando, numa lentidão agonizante, escovo os dentes, sem nem ao menos olhar para o espelho e só então, após fazer minha higiene é que tenho coragem de olhar ao espelho. Vejo o rosto ainda amassado do sono, os cabelos desgrenhados e os olhos verdes ainda meio fechados, e então tomo coragem e lavo meu rosto com a água fria, que me desperta parcialmente, e é nesse topor que revejo minha lista imaginaria, busco por inumeras tarefas que me faltam fazer, e percebo que as desejosas já estão feitas, estas sempre são as primeiras. Percebo então que ainda faltam as indesejadas, e estas eu adio, ate que não haja mais tempo, e é com estes pensamentos que relembro então das tarefas que já foram adiadas, estas, eu finalmente tomo coragem para fazer-las.

Seco o rosto com a toalha felpuda, sento na tampa da privada, ainda fechada, me inclino, ficando corcunda, a cabeça perdida entre as pernas, segurando o choro. Deste pequena eu quis ser a filha perfeita para minha mãe, o orgulho do meu pai, a namorada engraçada, a amiga fiel, a aluna exemplar. No começo o esforço para ter cada uma dessas em mim foi desgastante, como se eu estivesse interpretando outra. Uma desconhecida. A desconhecida que eu queria ser.

Teve um tempo em que achei que realmente era esta desconhecida, mas na realidade nunca fui. E descobrir isso doeu, mas uma dor rápida, feito band-aid quando puxado rápido e com força. Mas é na hora do banho que me derramo, literalmente. É no banho que posso chorar sem culpa, sem ter que compartilhar. E depois de segundos, não consegui mais distinguir se o que molhava meu rosto eram as lágrimas ou as gotas d'água.

Houve um tempo em que chorar não era para mim, as únicas lágrimas que deixavam meus olhos eram as de raiva, raiva dos outros, por qualquer motivo. A violência mundial, a mãe briguenta, o pai as vezes ignorante e a amiga super sensível.

É quando percebo que sou um pouco da "mãe briguenta", do "pai as vezes ignorante" e da "amiga super sensível" é que tudo desmorona. Porque é assim que vejo que nunca fui e nunca vou ser a desconhecida que pensei ser antes. E não há lágrimas suficientes que mudaram isso. E é assim que eu provo para a amiga super sensível o quanto meu coração não é de pedra, mostro também, que não sou a mulher forte que meu pai quer ter como filha, ou a mulher perfeita que minha mãe sempre quis ser.


Mas é lembrando de velhos acontecimentos, que enfrentei firme e forte, mesmo que por dentro tudo tivesse desmoronado, que percebo.

Não importa o quanto me joguem as dificuldades, eu sempre vou passar por elas, fingindo ser a garota perfeita para minha mãe, o orgulho do meu pai, e a durona de coração de gelo.



3 comentários:

  1. Belo blog, tá ficand super legal
    Parabéns *---*

    'The Dope Show'

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  2. Não só seu blog, mas o que você escreve é assim.. perfeito *-*
    é difícil achar pessoas adultas que ainda sabem se expressar, escrever o que sente...
    Eu percebo que o mundo esta meio perdidinho, e é confortavelmente bom saber que existem pessoas como você, ou pelo menos, pessoas como eu.

    Parabéns pelo blog, gosto das suas ideias s2

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